O Livro

5. Dinheiro, espaço e tempo

Três variáveis determinam a viabilidade de qualquer filme: dinheiro, espaço e tempo. Se você as mantiver sob controle, o processo de realização se completa, e o espectador terá algo para ver que faça sentido. Essas variáveis dependem umas das outras, e mantê-las funcionando de modo harmonioso é a tarefa mais difícil de um realizador. Se você perder o controle, o filme não existirá, ou será um monstrengo do qual o espectador vai fugir.

Você de vez em quando ouve falar de um filme de Hollywood que foi rodado durante um ano, em três continentes. Na série “007” isso é bastante comum. Para fazer um filme assim, o produtor tem uma grande quantidade de dinheiro, pelo menos alguns milhões de dólares. E pode apostar que, mesmo assim, ele controla muito bem o seu investimento. No seu orçamento (o documento que detalha onde o dinheiro será gasto), estão previstos os deslocamentos da equipe por vários ESPAÇOS diferentes e a sua contratação pelo TEMPO necessário para as filmagens. Se o diretor sugerir filmar num quarto continente, provavelmente ouvirá um NÃO. Se pedir mais um mês para rodar, provavelmente ouvirá outro NÃO.

Alguns (raros) diretores, ao ouvir esse NÃO, propõem colocar eles mesmos o dinheiro que falta para o continente extra e o mês adicional. Tornam-se, se a proposta for aceita, coprodutores. É o que aconteceu com James Cameron, que bancou do próprio bolso parte de “Titanic” (1997). Você deve imaginar como esse negócio acabou sendo vantajoso para ele. Mas nem todos os diretores têm a conta bancária de James Cameron. Normalmente o diretor e sua equipe cumprem prazos e trabalham dentro do orçamento.

Tudo isso é essencial para a formação de sua equipe. O número de pessoas que vão trabalhar no seu primeiro filme pode até ser bem maior do que sugerimos (sete pessoas no set, três fora do set, mais os atores), se você conseguir controlar as três variáveis – dinheiro, espaço e tempo – de forma segura. A regra básica do cinema profissional de ficção, que dificilmente tem uma equipe com menos de 50 pessoas (pelo menos 30 no set), é a seguinte: quanto mais DINHEIRO você tem, mais a sua equipe pode se deslocar (mais ESPAÇO), e mais diárias a sua equipe terá para concluir o filme (mais TEMPO).

A conta do produtor considera, portanto, quanto custa pagar, deslocar e alimentar “x” pessoas durante “y” tempo. Quanto menos dinheiro ele tem, menos pessoas ele vai querer na equipe, com um mínimo de deslocamentos e um mínimo de diárias. Você deve estar pensando agora: “O que isso tem a ver com meu primeiro filme, que não tem dinheiro nenhum?” Tem tudo a ver. Mesmo sem um orçamento formal (“Meu Primo”, por exemplo, nunca teve um), e sem um real no bolso pra botar no filme, como esse cálculo pode ser feito?

É simples. Substitua “dinheiro” por “recursos”. Um carro emprestado pelo seu pai com o tanque cheio é um recurso excelente para deslocamentos. Mas dois carros com tanques cheios é melhor. Um acordo com o restaurante do seu tio que vai bancar os almoços de toda a equipe por uma semana é outro recurso sensacional. Uma oferta de um amigo, que vai emprestar a fazenda do pai para o filme e ainda fornecer a carne para os churrascos (e aquele arroz com feijão para os vegetarianos) é um recurso melhor ainda. Ficou claro? Se não há dinheiro, a produção terá de encontrar as soluções para cada problema de TEMPO e ESPAÇO.

Quando falarmos de roteiros, vou enfatizar a importância de escrever histórias que sejam viáveis para o seu primeiro filme. Contudo, por enquanto, seja qual for o roteiro que você vai filmar, podemos complementar a dica básica sobre a formação da equipe:

QUANTO MENOS GENTE NA EQUIPE, MAIS FACILMENTE ELA SE DESLOCA. VOCÊ PODE GANHAR ESPAÇO.

QUANTO MENOS GENTE NA EQUIPE, MAIS BARATA FICA CADA DIÁRIA. VOCÊ PODE GANHAR TEMPO.

O seu professor de matemática poderia dizer que a variável TAMANHO DA EQUIPE é inversamente proporcional ao ESPAÇO e ao TEMPO do seu filme, se o DINHEIRO (RECURSOS) se mantém inalterado. Ele também poderá adverti-lo que não há problema em aumentar a variável TAMANHO DA EQUIPE se você estiver preparado para o que vai acontecer do outro lado da equação. Antes que você reclame e diga que este livro é sobre cinema, e não sobre matemática, uma advertência: saber trabalhar com números é uma das qualidades mais importantes para quem quer compreender como funciona o cinema.

 

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