O Livro

2. O que é cinema?

Cinema é, antes de tudo, um processo que permite a realização de filmes. Também é outras coisas. Milhares de pessoas estudam cinema não para fazer filmes, e sim para arquivá-los, pesquisá-los, entendê-los, criar teorias sobre eles e criticá-los. Essas pessoas são importantes e fazem parte do mundo do cinema. Mas não terão espaço nesse livro, que é dedicado aos que simplesmente querem fazer filmes.

Vou chamar genericamente de “filme” qualquer sequencia de imagens em movimento com som sincronizado que conta uma história. Não importa a duração, o suporte ou a forma de veiculação. Não importa se é um longa produzido e exibido em 35mm, ou um curta em vídeo de um minuto gravado e editado num celular. O desafio é o mesmo: contar uma história e encantar o espectador.

Nem todos os filmes contam histórias de forma explícita. O cinema contemporâneo às vezes faz um esforço enorme para esconder a história, ou transformá-la em algo tão tênue que mal podemos percebê-la. Os chamados filmes contemplativos, em que quase nada acontece, estão na moda. Alguns até são muito bons. Mas, para quem quer fazer seu primeiro filme, recomendo pensar que a história é muito importante e não deve ser escondida.

Se você está pensando em fazer um filme de dez minutos sobre as gotas de chuva caindo numa poça, ótimo! Não é preciso ler coisa alguma para fazer essa chatice. Não tenho nada contra gotas de chuva em poças. Há um filme holandês chamado “Regen” (“Chuva”), de Joris Ivens e Mannus Franken, feito em 1929, que está cheio de gotas de chuva. Mas elas caem em muitos lugares diferentes e transformam a cidade (a maravilhosa Amsterdã), e seus habitantes. O filme está no Youtube. Dê uma olhada.

Mas se o seu filme contemplativo vai ser sobre seres humanos, e eles vão fazer alguma coisa, nem que seja tomar um copo d’água, talvez valha a pena seguir em frente e continuar lendo. Saber como funcionam as histórias pode ser útil para quem quer fugir delas. É mais ou menos como fazer um esforço para entender as “regras” da gramática do cinema e depois desrespeitá-las com conhecimento de causa. Mas – atenção! – se o filme não conta uma história terá de oferecer ao espectador algo tão bacana quanto. É uma tarefa complicada.

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